segunda-feira, 1 de março de 2010

O Cordel



O CORDELISTA  ANTONIO BARRETO COLOCA MUITO BEM O QUE MUITO DE NOS PENSAMOS SOBRE ESTA "CRETINICE" DA GLOBO, QUE SE REPETE PELO DÉCIMO ANO

    O educador Antônio Barreto, um dos maiores cordelistas da Bahia, acaba de retornar ao Brasil com os versos mais afiados que nunca depois da polêmica causada com o cordel "Caetano Veloso: um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso".

    Desta vez o alvo é o anacrônico programa BBB-10 da TV Globo. Nesse novo cordel intitulado "Big Brother Brasil, um programa imbecil" ele não deixa pedra sobre pedra. São 25 demolidoras septilhas (estrofes de 7 versos). Só para dar um gostinho:

    Curtir o Pedro Bial
    E sentir tanta alegria
    É sinal de que você
    O mau-gosto aprecia
    Dá valor ao que é banal
    É preguiçoso mental
    E adora baixaria.

    Há muito tempo não vejo
    Um programa tão ‘fuleiro’
    Produzido pela Globo
    Visando Ibope e dinheiro
    Que além de alienar
    Vai por certo atrofiar
    A mente do brasileiro.

    Me refiro ao brasileiro
    Que está em formação
    E precisa evoluir
    Através da Educação
    Mas se torna um refém
    Iletrado, ‘zé-ninguém’
    Um escravo da ilusão.

    Em frente à televisão
    Lá está toda a família
    Longe da realidade
    Onde a bobagem fervilha
    Não sabendo essa gente
    Desprovida e inocente
    Desta enorme ‘armadilha’.

    Cuidado, Pedro Bial
    Chega de esculhambação
    Respeite o trabalhador
    Dessa sofrida Nação
    Deixe de chamar de heróis
    Essas girls e esses boys
    Que têm cara de bundão.

    O seu pai e a sua mãe,
    Querido Pedro Bial,
    São verdadeiros heróis
    E merecem nosso aval
    Pois tiveram que lutar
    Pra manter e te educar
    Com esforço especial.

    Muitos já se sentem mal
    Com seu discurso vazio.
    Pessoas inteligentes
    Se enchem de calafrio
    Porque quando você fala
    A sua palavra é bala
    A ferir o nosso brio.

    Um país como Brasil
    Carente de educação
    Precisa de gente grande
    Para dar boa lição
    Mas você na rede Globo
    Faz esse papel de bobo
    Enganando a Nação.

    Respeite, Pedro Bienal
    Nosso povo brasileiro
    Que acorda de madrugada
    E trabalha o dia inteiro
    Dar muito duro, anda rouco
    Paga impostos, ganha pouco:
    Povo HERÓI, povo guerreiro.

    Enquanto a sociedade
    Neste momento atual
    Se preocupa com a crise
    Econômica e social
    Você precisa entender
    Que queremos aprender
    Algo sério – não banal.

    Esse programa da Globo
    Vem nos mostrar sem engano
    Que tudo que ali ocorre
    Parece um zoológico humano
    Onde impera a esperteza
    A malandragem, a baixeza:
    Um cenário sub-humano.

    A moral e a inteligência
    Não são mais valorizadas.
    Os “heróis” protagonizam
    Um mundo de palhaçadas
    Sem critério e sem ética
    Em que vaidade e estética
    São muito mais que louvadas.

    Não se vê força poética
    Nem projeto educativo.
    Um mar de vulgaridade
    Já tornou-se imperativo.
    O que se vê realmente
    É um programa deprimente
    Sem nenhum objetivo.

    Talvez haja objetivo
    “professor”, Pedro Bial
    O que vocês tão querendo
    É injetar o banal
    Deseducando o Brasil
    Nesse Big Brother vil
    De lavagem cerebral.

    Isso é um desserviço
    Mal exemplo à juventude
    Que precisa de esperança
    Educação e atitude
    Porém a mediocridade
    Unida à banalidade
    Faz com que ninguém estude.

    É grande o constrangimento
    De pessoas confinadas
    Num espaço luxuoso
    Curtindo todas baladas:
    Corpos “belos” na piscina
    A gastar adrenalina:
    Nesse mar de palhaçadas.

    Se a intenção da Globo
    É de nos “emburrecer”
    Deixando o povo demente
    Refém do seu poder:
    Pois saiba que a exceção
    (Amantes da educação)
    Vai contestar a valer.

    A você, Pedro Bial
    Um mercador da ilusão
    Junto a poderosa Globo
    Que conduz nossa Nação
    Eu lhe peço esse favor:
    Reflita no seu labor
    E escute seu coração.

    E vocês caros irmãos
    Que estão nessa cegueira
    Não façam mais ligações
    Apoiando essa besteira.
    Não deem sua grana à Globo
    Isso é papel de bobo:
    Fujam dessa baboseira.

    E quando chegar ao fim
    Desse Big Brother vil
    Que em nada contribui
    Para o povo varonil
    Ninguém vai sentir saudade:
    Quem lucra é a sociedade
    Do nosso querido Brasil.

    E saiba, caro leitor
    Que nós somos os culpados
    Porque sai do nosso bolso
    Esses milhões desejados
    Que são ligações diárias
    Bastante desnecessárias
    Pra esses desocupados.

    A loja do BBB
    Vendendo só porcaria
    Enganando muita gente
    Que logo se contagia
    Com tanta futilidade
    Um mar de vulgaridade
    Que nunca terá valia.

    Chega de vulgaridade
    E apelo sexual.
    Não somos só futebol,
    baixaria e carnaval.
    Queremos Educação
    E também evolução
    No mundo espiritual.

    Cadê a cidadania
    Dos nossos educadores
    Dos alunos, dos políticos
    Poetas, trabalhadores?
    Seremos sempre enganados
    e vamos ficar calados
    diante de enganadores?

    Barreto termina assim
    Alertando ao Bial:
    Reveja logo esse equívoco
    Reaja à força do mal…
    Eleve o seu coração
    Tomando uma decisão
    Ou então: siga, animal…

    FIM

    Salvador, 16 de janeiro de 2010.

    * * *

    Antonio Barreto nasceu nas caatingas do sertão baiano, Santa Bárbara, na Bahia.
    Professor, poeta e cordelista. Amante da cultura popular, dos livros, da natureza, da poesia e das pessoas que vieram ao Planeta Azul para evoluir espiritualmente.
    Graduado em Letras Vernáculas e pós graduado em Psicopedagogia e Literatura Brasileira.
    Seu terceiro livro de poemas, Flores de Umburana, foi publicado em dezembro de 2006 pelo Selo Letras da Bahia.
    Possui incontáveis trabalhos em jornais, revistas e antologias, com mais de 100 folhetos de cordel publicados sobre temas ligados à Educação, problemas sociais, futebol, humor e pesquisa, além de vários títulos ainda inéditos.
    Antonio Barreto também compõe músicas na temática regional: toadas, xotes e baiões.

Um comentário:

Pod papo - Pod música disse...

É verdade, a globo só quer dinheiro e pouco se importa com os efeitos que certos programas podem causar na mente das pessoas e ainda por cima rotulam aqueles participantes de "guerreiros" que palhaçada né! E nós brasileiros temos que nos preocupar com o que é realmente importante em vez de apreciarmos esse tipo de programa.

Beijos